A CPPME participou, na passada sexta-feira, dia 19 de Outubro de 2018, no Seminário sobre "Imigração" promovido pela União dos Sindicatos de Lisboa, em Lisboa, onde José Brinquete, em nome da CPPME, fez uma intervenção sobre "As micro e pequenas empresas e a importância estratégica do respeito e cumprimento dos direitos dos trabalhadores".
Participaram neste
evento: Manuel Grilo vereador da Câmara Municipal de Lisboa; Alina
Esteves investigadora do Instituto de Geografia e Ordenamento do
Território - Universidade de Lisboa; André Carmo Investigador
IPL e GEG - Centro de Estudos Geográficos; Hugo Dionísio Jurista da
CGTP-IN; Carlos Trindade Departamento das Migrações da CGTP-IN.
Bom dia a todos!
Em primeiro lugar,
em nome da Confederação Empresarial, que aqui represento, quero agradecer o
convite que a União dos Sindicatos de Lisboa nos fez, para participarmos neste
importante Seminário sobre “Imigração”.
Propuseram-nos que
falemos sobre “As micro e pequenas empresas e a importância estratégica do respeito e
cumprimento dos direitos dos trabalhadores”
Mas, entretanto, se
me permitem, gostaria de vos referir que a Confederação Portuguesa de Micro,
Pequenos e Médios Empresários (CPPME) é uma Confederação Nacional que, no
passado mês de junho, fez 33 anos de existência.
A CPPME tem por
âmbito o território nacional, continental e regiões autónomas, podendo
associar-se na CPPME, nas condições estatutárias, federações, uniões,
associações, empresas ou empresários de sectores da indústria, do comércio ou
de serviços, que se podem organizar em núcleos plurissectoriais ou secções por ramo
de actividade.
O objetivo
principal da Confederação é fomentar e defender o associativismo de classe, tão
importante para o nosso país, e que, por razões óbvias de interesses tão
diferentes em relação aos das grandes empresas, não podem ser representadas e
muito menos defendidas pelas grandes Confederações Empresariais, onde se
misturam todo o tipo de empresas e prevalece o domínio das médias e grandes,
nomeadamente na representatividade das suas direcções.
Apresentado o
bilhete de entidade, vamos então ao tema proposto.
Desde logo, precisamos
ter presente que, dos cerca de quatro milhões e meio que constitui a população activa
nacional (segundo o INE), cerca um milhão e meio são empresários, e destes, um
milhão e cem mil são microempresários. Os microempresários representam 96,3% do
tecido empresarial não financeiro e empregam quase dois milhões de
trabalhadores, incluindo trabalhadores e os sócios gerentes que também são
trabalhadores dependentes das suas empresas. Sendo que os pequenos empresários
são 3% e, os médios e grandes empresários representam um valor quase residual,
05% e 0,2% respectivamente.
Um outro dado que
a Autoridade Tributária e Aduaneira nos fornece é, de que destes MPE, cerca de
setecentos mil são trabalhadores a recibos verdes e autoempregos. Porque estão
colectados na AT e exercem uma actividade económica.
E já agora, um
outro dado que é interessante reter é, de que dos setecentos mil recibos verdes
ou autoempregos, mais de trezentos mil não pagam impostos porque tem um
rendimento mensal abaixo de 250 euros.
Uma outra forma de
abordar o problema será assumir sem qualquer dúvida que quem cria uma empresa e
abre um negócio deve ter como objectivo “ganhar dinheiro”, o que nos parece
legítimo, mas não será bom empresário aquele que, sendo empresário (micro,
pequeno, médio ou grande) queira ter lucros e não defenda que os seus
trabalhadores também devem ter um salário aceitável.
Nós, na
Confederação, sempre valorizamos os salários e as pensões, pelo simples facto
de que os micro e pequenos e médios empresários trabalham, quase em
exclusividade, para o mercado interno nacional. Ora, só é possível às micro e
pequenas empresas terem saúde financeira, se a população portuguesa (os
trabalhadores e os reformados) tiver poder de compra. Se isso não acontecer os
seus negócios nunca terão futuro.
Importa também
dizer que, na CPPME, não somos contra as exportações, antes pelo contrário, só
que as empresas exportadoras, das cerca de um milhão e duzentos mil existentes
como atrás referimos, são apenas cerca de 20 mil que exportam. E se, por mero
passe de mágica, aumentassem 50%, nunca seriam mais de 30 mil empresas a
exportar. Ora, mesmo que aumentem as empresas exportadoras no valor que acabo
de referir, o que seria muito bom, a esmagadora maioria manter-se-á a laborar
para o mercado interno nacional, como é óbvio.
Existe ainda um
outro fenómeno, que creio conhecem muito bem, até por experiência própria, que
consiste no facto de dezenas senão centenas de milhares de trabalhadores já
terem experimentado a sua condição de microempresário e vise versa.
A linhas
governamentais sobre o “Empreendedorismo” e “Start Up” têm agravado esta
realidade, já que a mortalidade (nos primeiros três anos) das empresas no dito
empreendedorismo, é na ordem de 60% e, nas star up, muitas vezes a mortalidade
chega aos 90%. Todos este famigerado
empreendorismo e os programas star up, obrigam milhares de homens e mulheres a colocarem-se,
uma vezes na situação de empresários e outras na condição trabalhadores por
conta de outrem.
Depois, não
podemos esquecer que os empresários que, no terreno, lutam todos os dias para
fazer sobreviver as suas empresas e o seu negócio, esses sim são os verdadeiros
«Empreendedores» da actualidade.
Se a tudo isto
juntarmos o facto de os micro e pequenos empresário estarem sujeitos a uma
brutal carga fiscal, a tributações autónomas e custos de contexto manifestamente
exagerados, ou à dificuldade no acesso ao crédito, podemos concluir de que
muitos dos problemas que os trabalhadores enfrentam no seu dia a dia, estão
muito próximos dos problemas que os micro e pequenos empresários enfrentam.
Estes, com a agravante de responderem com o património pessoal, em caso de
execuções por dívidas na actividade exercida por si.
Meus amigos,
O que podemos
afirmar, da nossa experiência no terreno, é que os micro e pequenos
empresários, no essencial, cumprem com os direitos dos trabalhadores e com o
salário mínimo nacional. Indo em muitos casos acima desse valor.
Do nosso conhecimento,
os salários baixos verificam-se sobretudo nos Caal Center, nas Grandes
Superfícies e Empresas de Distribuição, nas Multinacionais, entre outras.
Em síntese,
podemos concluir 2 coisas:
1 - Que os micro e pequenos empresários, sendo vítimas dos grandes monopólios, são uma classe social potencialmente antimonopolista e em muitos aspectos enfrentam problemas, de alguma forma, idênticos aos dos trabalhadores por conta de outrem.2 - Que a valorização dos salários é um objectivo tão justo, como o desejo do empresário de vir a ter lucro com a sua empresa e o seu negócio. Incluem-se, neste contexto, os milhares de imigrantes que exercem a sua actividade em Portugal, como micro e pequenos empresários.
Obrigado pela
atenção dispensada!
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