Vida Económica - O que motiva a
CPPME a defender uma alteração das atuais políticas fiscais?
João António Vicente - Identificamos
a política fiscal como fator relevante quer para o desejável equilíbrio quer
para a manutenção do penoso e injusto desequilíbrio reinante no tecido
empresarial. A política fiscal pode e deve contribuir para a sustentabilidade
das MPME. Nesse sentido, face à grave situação em que particularmente as micro
e pequenas empresas (mais de 99% do universo empresarial português) se
encontram, a resvalarem perigosa e crescentemente, em grande número, para a
insolvência, não podemos deixar de reclamar a alteração das atuais políticas
fiscais visando a eliminação da discriminação negativa que castiga as MPME,
face ao paraíso fiscal que aconchega as grandes empresas, e introduza maior
equilíbrio económico no seio do espaço empresarial.
VE - Na prática, em que medida a fiscalidade tem condicionado a
atividade das MPME?
JAV - Enquanto, por exemplo, a fiscalidade mantiver o IVA a
23% e o “IVA de Caixa” sem o ser; enquanto o IRC das micro e pequenas empresas
se situar, normalmente, entre os 20 e os 30% e o das grandes empresas entre os
12 e os 14%; enquanto o crédito fiscal for barrado às MPME; enquanto a Autoridade
Tributária for prepotente, intolerante e sem tempo para atender direitos do
pequeno contribuinte, submerso pela carga dos deveres, mas, em contrapartida,
solícita, aberta e dialogante para com a elite destinatária de generosos
benefícios fiscais e de criativas soluções quando por “lapso”, sempre
desculpado, se esquece de cumprir os mais elementares deveres tributários, não
daremos tréguas à tarefa de remoção destes entraves, fortemente penalizantes da
atividade das MPME.
Cumprir
e lutar pela defesa da Constituição da República Portuguesa é dever cívico de
todos nós. A tributação das empresas incide fundamentalmente sobre o seu rendimento
real (art. 104º, ponto 2, do texto constitucional), pelo que a CPPME reclama,
tão-só, o seu cumprimento.
VE - Assim sendo, quais as principais alterações fiscais
propostas pela confederação?
JAV - Na reunião de 18 de janeiro do corrente ano, o executivo
da CPPME considerou como prioritárias 13 medidas, 9 das quais reclamam, do
Legislador e do Executivo, alterações na política fiscal.
Entre
estas medidas salienta-se a criação de conta corrente entre o Estado e as empresas;
a extinção do Pagamento Especial por Conta (PEC); a alteração ao chamado IVA de
Caixa com a sua a entrega apenas após a boa cobrança; e a redefinição do
critério de apuramento tributário em sede de IRC/IRS, que penaliza os
microempresários aderentes sempre que o salário mínimo aumenta, bem como o
alargamento do teto de adesão a este regime para 300 mil euros de Volume Anual
de Negócios.
Para
além disso, consideramos ainda essencial a redução do IVA do gás e da eletricidade
para a taxa que vigorava em 2011 (6%), para todas as atividades económicas; a
diminuição da taxa do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP); a redução do
IVA da restauração para 13% do setor de bebidas que, no segundo semestre de
2016, ficou de fora da descida do imposto; a alteração ao sistema de normalização
contabilística, auditorias obrigatórias, TCC/ROC; e a revisão dos coeficientes
de apuramento do Valor Patrimonial Tributário em imobiliário para o comércio e
indústria, com tributação de benefícios, em particular nas zonas periféricas
de cidades e vilas, de forma a anular situações em que o VPT é superior ao
valor de mercado, com consequências nefastas para os MPME no pagamento do IMI
de imobiliário próprio e nos IMT.
VE - Acredita que algumas das vossas reivindicações poderão ser
incluídas no Orçamento de Estado para o próximo ano?
JAV - Todos os anos, sempre que se inicia o período de
elaboração do Orçamento de Estado (OE), a CPPME apresenta aos diferentes
grupos parlamentares as alterações fiscais, que considera da maior importância
e de absoluta exequibilidade. Das 30 propostas fiscais que apresentámos em
2016, ao contrário do que havia acontecido em anos anteriores, 4 mereceram bom
acolhimento e foram, total ou parcialmente, aprovadas pela Assembleia da
República.
Nesse
sentido, é nossa convicção que as medidas que vimos reivindicando, na área
fiscal bem como em todas as outras áreas, que têm impactado fortemente a vida
das empresas e de todos aqueles que lhe dão vida, ganham crescente acuidade e
muitas se tornam inadiáveis. Acreditamos, pois, que algumas dessas medidas
serão incluídas na proposta de OE para o próximo ano, nomeadamente a criação da
conta corrente entre o Estado e as empresas, obviamente carregada de vantagens e
praticamente isenta de custos.
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