Falando
das preocupações e interesses das MPME, o responsável acrescenta ainda que “as
opções estratégicas, então aprovadas, deram origem a um conjunto de programas
que, tardiamente, foram sendo implementados, muitos dos quais segundo critérios
temporais impercetíveis e mais ao sabor de interesses de curto prazo do que de
lógicas ligadas a prioridades objetivas, resultantes das necessidades
estruturais sentidas pelos agentes económicos”.
Não obstante, o responsável máximo
da CPPME identifica ainda problemas ao nível operacional. “Os programas têm
sido operacionalizados através de avisos de candidaturas cujo calendário não é
normalmente publicitado, apanhando inevitavelmente de surpresa os potenciais
interessados”. Neste contexto, João António Vicente dá como exemplo o programa
Competitividade e Internacionalização, cujo último calendário conhecido “remonta
a 21 de julho de 2016 e abordava candidaturas a abrir até final desse ano”. A
acrescer a esta situação, o grau de incerteza em torno do referido programa “é
ainda maior, dado que não é ainda público qualquer calendário de candidaturas
para o corrente ano”.
Para além deste obstáculo, a CPPME
denuncia que a dificuldade em candidatar projetos “é ainda mais agravada,
fruto de dois fatores de importância relevante”. Se, por um lado, “o prazo de
apresentação das candidaturas contemplado nos avisos é, por norma, muito
curto”, por outro, “o preenchimento dos formulários de submissão para avaliação
é de elevada complexidade, o que obriga as entidades candidatas a recorrer a
serviços de consultoria não elegíveis nos orçamentos dos projetos
candidatados”.
“Existiria muito mais a referir,
mesmo num balanço sintético, mas o que foi apresentado é suficiente para
afirmarmos e sustentarmos que não houve um bom aproveitamento dos fundos
comunitários ligados a programas pertinentes para as MPME”, remata o
responsável.
MPME não se sentem representadas nas atuais estruturas
empresariais
Questionado sobre o que falhou neste
processo, João António Vicente afirma perentoriamente que “tudo teria sido bem
diferente se na preparação do Portugal 2020 tivessem sido consultadas as MPME
através de estruturas de representação capacitadas e naturalmente habilitadas
a defenderem os seus interesses específicos e diferenciadores”.
De facto, complementa o dirigente
associativo, “a não participação da CPPME no Conselho Permanente de
Concertação Social e nem sequer, pasme-se, no Conselho Económico e Social tem
levado ao abastardamento da representação dos MPME por parte das centrais
patronais ligadas a grandes interesses económicos. Este facto tem sido um
verdadeiro obstáculo ao desenvolvimento das micro e pequenas empresas que não
se sentem representadas na CIP nem na CCP, controladas pelas grandes empresas
industriais, comerciais e de serviços, com interesses e objetivos distintos e
quase sempre antagónicos aos das MPME”.
Desafiado a apontar como seria
possível ultrapassar os obstáculos identificados, o responsável afirma ser
“muito difícil, nesta altura, opinar sobre como poderiam ser minimizadas as
dificuldades de acesso das MPME aos fundos do Portugal 2020”. Ainda assim, o
presidente da CPPME adianta que “isso passará, em primeiro lugar, pelo
reconhecimento dessas dificuldades e da necessidade urgente de as ultrapassar
por parte do Governo”. Feita essa confirmação, “haveria que promover encontros,
entre as entidades gestoras do Portugal 2020 e a CPPME, para a análise desta
problemática e para tomadas de decisão” no sentido de facilitar o acesso dos
fundos às MPME. Por fim, “seguir-se-ia a publicitação das decisões tomadas, a
operacionalização dessas decisões e a monitorização conjunta dos resultados
obtidos, visando a otimização de resultados futuros”.
Salientando que “urge vontade
política e determinação do Governo para inverter as tendências que hoje se
verificam no que concerne à aplicação e ao bom aproveitamento dos fundos
comunitários por parte das MPME”, João António Vicente remata alertando que,
“se nada for feito, não é apenas o futuro das MPME que estará em causa, mas o
futuro do nosso país”.
Os programas têm sido operacionalizados através de avisos de
candidaturas cujo calendário não é normalmente publicitado, apanhando
inevitavelmente de surpresa os potenciais interessados
“O grau de incerteza em torno do
Portugal 2020 é ainda maior, dado que não é ainda público qualquer calendário
de candidaturas para o corrente ano”, salienta João António Vicente.
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